Filomena Carvalho
A comandante
Podemos dizer que é uma pioneira. Foi a primeira mulher a estudar pilotagem na Escola de Aviação no Gabão, a primeira mulher piloto da companhia aérea nacional, TACV, a primeira mulher comandante da mesma companhia e neste momento a única. Filomena Carvalho é também a madrinha do Mindelo, o novo Boeing da TACV. Motivos para uma entrevista não faltam, por isso.
Quando tinha 12 anos disse para com os seus botões que iria ser a primeira mulher piloto da TACV. E não descansou até o conseguir. Filha de pai mecânico de aviões foi a profissão do progenitor que lhe despertou a vontade de voar e aos 19 anos foi estudar pilotagem no Gabão com uma bolsa da PNUD, que pela primeira vez deu bolsas nessa área. “Foi uma mão de Deus”, que o Ministério de Educação não tinha como subsidiar cursos de pilotagem.
Chegando ao Gabão, tornou-se na primeira mulher estudante da sua escola de aviação. A administração até teve de arranjar um local próprio para a Filomena, já que os dormitórios só tinham condições para homens, nomeadamente a nível de balneários. Pela primeira vez que pegou no manche de um avião ficou “babada com o pôr-do-sol do Gabão”.
No início, por ser a única mulher era conquistada por grande parte dos colegas. “Tive de dar vários não, não, não,” diz entre sorrisos. A estadia na escola em Franceville permitiu-lhe fazer amigos de várias nacionalidades, com alguns ainda hoje mantém contacto.
A segunda mulher, uma gabonesa, a estudar pilotagem na escola chegou um ano depois. Depois de cerca 18 anos sem falar encontraram-se um dia nas alturas, literalmente. Filomena Carvalho estava a fazer um voo Dakar -Bissau quando a colega, co-piloto de um Airbus, reconheceu a sua voz e as duas começaram a conversar numa frequência de rádio própria. Filomena lamenta o facto de nunca mais se terem encontrado.
Quando entrou nos anos 1990 para a TACV, passou a ser a mascote da companhia. Começou como co-piloto no aparelho Twin Otter, depois um HS, um CASA C-212, vários modelos de ATR.
Mãe e piloto
Há 14 anos foi-lhe proposto passar para piloto de Boeing. Grávida de Rafael, o seu único filho, não aceitou. “Não queria que o meu filho fosse criado pela empregada”. Confessa que é difícil ser piloto e ser mãe. “É uma vida mesmo dura”, explica e acrescenta: “temos de ser super mães”. Há dias em que sai cedo para os voos e não vê o filho acordar. Quando regressa de viagem já é horário de aulas. Assim há dias em que só vê o Rafael durante algumas horas no final do dia.